16 de outubro de 2012

Eu não pensei que fosse fazer alguma diferença



Eu não pensei que fosse fazer alguma diferença. Achei que seria uma tarefa como outra qualquer: sair mais cedo de casa, passar na faculdade para entregar uns trabalhos de fim de período e depois ir pro trabalho (esse último, daqueles sério, que você recebe salário no fim do mês).
Pensei que fosse ser fácil. E foi, objetivamente. Dia lindo, trânsito bom, ônibus vazio, uma mulher pedindo dinheiro...
Mas, subjetivamente, foi bem diferente.
Cheguei ao campus e fui direto pro corredor da coordenação, deixar os trabalhos no escaninho. Ainda tinha tempo antes de seguir minha rotina, então resolvi dar uma voltinha. Foi quando eu entrei no corredor das salas, o sol entrando pelos janelões, aquele cofre... Nunca entendi aquele cofre! Uma vez disseram que usavam ele pra trancar a porta de uma sala (sabe como é, escorando). Os azulejos azuis... que pleonasmo! Alunos sentados nos banquinhos, só os nerds, porque ainda era sete e qualquer coisa. A xérox da Beth, fechada – já disse que ainda era sete e qualquer coisa. A xérox do Ita, aberta – porque já era sete e qualquer coisa!
Quando olhei pro laguinho, lá estavam os resquícios do nascimento dos calouros. Como as cascas deixadas para trás pelos passarinhos que nascem, lá estavam os potes de guache, copos, papéis, toda sorte de porcarias. Cúmplices de todos os banhos demorados e roupas descartadas.
Continuei minha caminhada fora do palácio. Não vi ninguém que eu conhecesse, pelo menos nenhum aluno. Já os gatos da ECO, esses são sempre os mesmos. Desconfio que alguns deles tenham cerca de 130 anos (obs.: nessa de não ver ninguém conhecido a gente se sente tiozão! Ou um gato da ECO, mesmo).
Eu passei pela CPM, Cópia Café, pelo Sujinho. Eu atravessei a Lauro Müller. Eu senti o vento. Não me lembrava quando tinha sentido o vento pela última vez. Eu quis chorar, mas segurei. Vinha um cego pela calçada e ele podia escutar eu soluçando.
Na faculdade, eu corri. Enquanto meus amigos fazem 20 ou 21, eu faço 23 ou 24. Uma faculdade de arquitetura eu deixei pra trás. Uma família te sustentando em outra cidade não é nada confortável (a não ser que você seja um vagabundo relaxado!). Eu corri do jeito que pude. Mas não faça como eu.
Isso pode ter sido só um relato de alguém saudosista. Sou o rei dos saudosistas. E eu sei também que a história do passarinho quebrando a casca foi, muito provavelmente, a coisa mais brega que você já leu. Mas, o que eu quero com esse texto é alertá-los sobre uma coisa: fiquem na faculdade durante cinco anos. Seis, se possível! Quatro anos passa tão rápido quanto o intervalo entre as aulas.
Puxe trezentas matérias, deixe um monte de buracos no seu quadro de horários e use seu tempo pra vadiar.
E SINTA O VENTO. Eu não pensei que fosse fazer alguma diferença.

3 comentários:

GG disse...

Excelente post, Thales. Tenho muito orgulho de estar cursando a ECO, onde, enfim, pude trabalhar com o material que amo de verdade - os quadrinhos - e fazer amizades tão fortes e emocionantes, como a sua. Tenho muito orgulho do tempo que passei lá, e não considero essa etapa terminada ainda. Ainda há muito que vivermos lá. Sintamos o vento juntos, jogando conversa fora, trocando ideias sobre histórias e filmes. Apenas, sejamos nós mesmos, antes que o tempo passe e não possamos mais estar tão próximos.

Novamente, foi um imenso prazer ter te conhecido lá na ECO, cara, e espero, sinceramente, que possamos manter essa amizade por quantos anos for possível. Um imenso abraço e tudo de bom pra você, meu amigo.

Fique com Deus. =)

Tia Mirian disse...

Querido Thales, que beleza de post.
Imagino a sua emoção pelo quanto ele me emocionou também...
Quero deixar registrada mais uma vez
a minha admiração pela sua sensibilidade, inteligência e visão de mundo.
Bjs.Fique com Deus.

Thales "Chaun" Estefani disse...

Poxa, Gabriel! Também tenho muito a agradecer por ter conquistado os amigos que conquistei nesse período de faculdade. E sim, espero que nossa amizade frutifique sempre mais!
Todo sucesso do mundo pra você! Torço por ti, pois reconheço a sua paixão e empenho naquilo que faz.

E...

Tia Mirinha, muito obrigado pelas sua palavras! É muito importante pra mim saber que você me compreendeu! E se sou o que sou, é o resultado de bons exemplos que tive desde cedo. E você estava lá.
Beijão!